terça-feira, 29 de setembro de 2009

Serenidade

Serenidade - sinônimo de amenidade, brandura, doçura, fleuma, mansidão, mansuetude, placabilidade, quietude e suavidade - é adjetivo para poucos. Para quem consegue transmitir paz com o olhar, com movimentos e com a voz. Hoje em dia tenho dado cada vez mais valor a essa característica, pois com tanta loucura, sábio é quem consegue manter o equilíbrio.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O outro lado


Havia algo de estranho naquela sensação. Ele tinha a impressão de estar flutuando e sem os movimentos. Se via deitado na cama e pensou: Calma! Deve ser mais um dos sonhos em que não consigo me mexer e gritar. Estava consciente, mas sem os movimentos do corpo. Nem os olhos sequer viravam de um lado para o outro. A respiração ofegante atrapalhava o retorno. Começou inspirar e expirar profundamente e nem isso colaborava para que ele voltasse. Será que estava morto? Esta ideia lhe passou pela cabeça e o fez sentir arrepios e o tal do frio na espinha que dizem sentir as pessoas que estão próximas da morte. Mas será que esse arrepio significava que já estava morto? Como saber? Se lembrou de todas as atividades do dia com detalhes, o café da manhã no refeitório da empresa que trabalhava, do almoço chato com clientes que por horas a fio discutiam assuntos sem importância sem chegar a lugar nenhum, da chegada em casa, de brincar com o cachorro, abrir correspondências, tomar uma dose de vodka, preparar um macarrão com queijo, comer e dormir. Não se sentiu mal, não bebeu além da conta e há alguns dias tinha pegado os resultados dos exames realizados anualmente e que para sua surpresa não apresentavam nada de anormal. Lembrar disso o aliviou e o fez tentar voltar para o seu corpo. Se debateu, fez força, tentou gritar e nada.... Com 39 anos, solteiro, boa aparência, bom emprego, não lhe parecia pertinente morrer logo agora. Lembrou da garota do fórum que paquerava. Mais alguns dias e estava certo que ela estaria ali naquela mesma cama em que tentava retomar o seu corpo. Mais algumas tentativas sem sucesso ele resolveu se locomover para o lado oposto da cama e conseguiu. Sentiu-se leve e com certo poder, o de voar, afinal sonhava com isso desde criança quando costumava pegar impulso em diversas superfícies para se imaginar voando. Era um sonho de criança que se concretizava. Por alguns instantes se conformou com a morte. Afinal, não teria mais que voltar ao trabalho chato que desenvolvia, nem se preocupar com a dívida do carro, com a hipoteca da casa, ler todos os dias os jornais para se mostrar informado e etc. Sentiu alívio, a sua única preocupação era o cachorro. Quem cuidaria do seu único amigo em vida? Certamente alguém arrumaria um dono para ele, assim esperava. Mas o que faria agora? Para onde iria? Os falecidos parentes não estavam lá para recebê-lo, nem nenhuma luz maravilhosa para que ele se guiasse. Então, resolveu que ficaria ali na sua casa por mais algum tempo e talvez ao amanhecer sairia para tomar um ar. Ar? Que ar? Não tinha sensibilidade alguma só mesmo a consciência.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Caminho

Sem saída ela olhava para os lados e se perguntava: E agora? Com pés descalços, muita bagagem nas costas e sem direção. Amigos? Poucos! Ideias muitas. O caminho era longo e bonito, porém, desgastante. Cheio de relevos! Era isso que a cansava e lhe tirava o fôlego. Quando conseguia respirar com tranqüilidade apareciam situações de risco. Os que estavam em volta, exceto os amigos, nem se importavam. Ajudar jamais, tolerar os passos lentos de um dia turbulento nem pensar. De um jeito só dela ela seguia. Algumas vezes animada chegava a fazer o traçado em seus planos para dois ou três dias. Em compensação em outros, não queria andar, ou melhor, não conseguia. A vida dela era assim. O bom mesmo era o riso. Ah! Não tinha igual. Não importava o trecho, plano ou arenoso, as brincadeiras estavam lá. Bem da verdade acho que ainda estão.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Pra resolver

Cabe quase tudo ali dentro e nunca é fácil achar o que se precisa. Apesar de ser possível manter certa distância, vira e mexe estou lá vasculhando, tentando encontrar soluções, fazendo conexões, pensando possibilidades. O que me conforta é a possibilidade de poder, de vez quando, fechar e não mais abrir até que eu tenha vontade. A vantagem são os diversos compartimentos existentes. Alguns podem ser trancados com chave, nestes coloco o que dificilmente quero voltar a encontrar e, às vezes, jogo até a chave fora. Outros fecho apenas o zíper - são os que não estão ali na minha frente, mas quando a saudade aparece estão ao meu alcance. Tem também aqueles que não quero parar de ver. Ah esses sim deixo espalhados, esparramados, até um pouco bagunçados. O acesso é livre, todos podem enxergar, perguntar sobre, opinar e, quem sabe, deixar algo que agregue e eu possa guardar, ou melhor, largar próximo dos "pertences" que não quero deixar num canto qualquer.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Pra ela

Ela tem cabelos longos até a cintura, silhueta magra, curvada e repleta de marcas do tempo. Passa horas de seu dia sentada na varanda de sua humilde casa, em uma cadeira de balanço posicionada de forma estratégica com vista para o horizonte e inclinada para até onde o campo de sua visão alcance o povoado que logo ali foi se formando. Balbucia poucas palavras, os movimentos são lentos e raros. De vez em quando é vista folheando um álbum de fotografias, acariciando seu gato ou levantando para arrumar a cinta de sua saia. Dizem que sua casa guarda segredos e lembranças de um passado que até ela se pudesse esqueceria. Ninguém sabe de onde veio e nem para onde vai. Tem dias que desaparece e muitos chegam a pensar que ela morreu sozinha dentro de sua própria casa esperando algo que não chegou. Então ela aparece sentada no mesmo lugar do mesmo jeito como se nunca tivesse saído.